terça-feira, 26 de agosto de 2008

Sonho de consumo

*Se és capaz de manter a calma quando todos à tua volta perdem a cabeça e te jogam a culpa

Se confias em ti quando todos duvidam e és capaz de relevar o descrédito alheio e, mesmo enganado, não lanças mão da falsidade e, mesmo odiado, não disseminas o ódio e não pareces bom demais, nem pretensioso

Se consegues sonhar sem te embriagares com os sonhos

se consegues pensar sem tornar os pensamentos tua meta

Se sabes lidar com o Triunfo e o Fracasso sem te deixares dominar por esses dois impostores

Se suportas ouvir a verdade que disseste deturpada pelos patifes para enganar os tolos e ao presenciar o colapso das coisas que te são mais caras te inclinas para reconstruí-las sem qualquer ferramenta além das tuas próprias mãos

Se és capaz de juntar todas as tuas coisas e arriscá-las num simples lance de cara-ou-coroa e, perdendo, recomeçar tudo de novo sem jamais lamentar as perdas

Se consegues forçar teu coração, teus nervos e teus tendões a trabalhar para além do ponto de exaustão e a resistir quando já nada mais te resta senão tua Vontade que ordena: "Firmes!"

Se és capaz de não te corromperes no meio da plebe e de não perderes a naturalidade junto aos poderosos

Se nem inimigos nem amigos queridos conseguem te ferir

Se todos te cortejam mas ninguém em demasia

Se preenches cada minuto fugaz com sessenta segundos de vida vivida

A Terra é tua, com tudo aquilo que há nela e – o que é mais importante –tu serás um homem, meu filho!

Rudyard Kipling

*"Roubei" do blog Desculpe a Poeira.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Então, pintei de azul os meus sapatos por não poder de azul pintar as ruas, depois, vesti meus gestos insensatos e colori as minhas mãos e as tuas. Para extingir em nós o azul ausente e aprisionar no azul as coisas gratas, enfim, nós derramamos simplesmente azul sobre os vestidos e as gravatas. E afogados em nós, nem nos lembramos que no excesso que havia em nosso espaço pudesse haver de azul também cansaço. E perdidos de azul nos contemplamos e vimos que entre nós nascia um sul vertiginosamente azul. Azul. Ontem eu usava minhas sapatilhas de plástico azul Bic e a minha amiga Wildi Celia, que reencontrei depois de uns anos, recitou esse Soneto do Desmantelo Azul. O autor é o poeta pernambucano, que eu não conhecia, Carlos Pena Filho. Ele nasceu em 1929 e morreu jovem. Como é bonito a pessoa saber de cor (e inteirinha) uma poesia que ela guarda para si!

domingo, 10 de agosto de 2008

sábado, 9 de agosto de 2008

Questão de tempo

"É verdade que não procedi com as regras da estética! Decididamente não entendo por que é mais glorioso bombardear uma cidade que matar alguém a machado! A preocupação estética é o primeiro sinal de fraqueza! Nunca o senti melhor do que hoje e cada vez compreendo menos qual é o meu crime!" (Fiódor Dostoiévski, em Crime e Castigo)

Você acaba de ler um livro muito bom e tem aquela sensação de missão cumprida. A edição é aquela de bolso da Ediouro (330 págs.), bem barata, que você comprou quando ainda estava na faculdade. O mundo diz que Crime e Castigo é uma obra-prima e seu professor de literatura brasileira impõe: "Não morram antes de ler Crime e Castigo". Ok, você começa a ler a tal edição de bolso e não consegue passar da vigésima página. Então deixa a obra-prima de lado, mas ainda sem se resignar com a própria burrice. Meses depois, você volta ao livro e... não consegue nem chegar à cena do assassinato (pág. 54)! O livro é (fala baixo)... chato? Ele volta para a estante e fica lá durante anos (quatro, cinco?). A terceira tentativa de fazê-lo deixar de ser um mito na sua vida acontece e você tem verdadeiros momentos de felicidade lendo esse exemplar, já com as páginas cheias de pintinhas castanho-claras, mas há também lugar para o mais profundo tédio e você demora dois meses para chegar à página 288. Você pára e decide interromper a leitura (por acaso alguém a obrigou a lê-lo???). Faltam 42 páginas para liquidá-lo e você resolve "ler outras coisas"... Mas ele ficou lá, na mesinha ao lado da cama, dizendo "bom dia!" persistentemente todo santo dia, durante pelo menos um mês. Ah, não! Desafio assumido, você pega o livro e... calma! "Ainda não! Deixa eu ler umas outras coisinhas aqui." A pobre leitura obrigatória fica mofando no seu colo por quatro dias consecutivos, quando finalmente você reage: "Me dá esse negócio aqui!"

Você acaba a experiência com um brilho nos olhos (sim! você o leu inteirinho!!) e finalmente percebe que não, você não é limitada. E que não, Crime e Castigo não é chato. Você está apenas diante de uma edição mal traduzida, NÃO REVISADA, com letras microscópicas e FEIA!

E entende do que é capaz um grande escritor. Dostoiévski venceu. Viva!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

É tudo chiclete!

Esse é o material usado pelo artista plástico italiano Maurizio Savini para criar suas esculturas, digamos, divertidas-esquisitas... (www.pastificiocerere.com)